Nise da Silveira (1905-1999) foi uma psiquiatra alagoana que se manifestou radicalmente contrária às formas agressivas de tratamentos psiquiátricos de sua época, é comumente recordada pelos psiquiatras, psicólogos e demais profissionais da saúde pelos seus feitos terapêuticos. Acreditava na capacidade da recuperação dos seus pacientes, através do cuidado, nas artes colocou para nós que na pintura e trabalhos com argila as pessoas com as quais cuidava poderiam expressar seus conflitos, alegrias e dores emocionais, este seu lindo legado resultou no Museu das Imagens do Inconsciente (mas isso é assunto para outro post).
Pois bem, foi observando uma de
suas pacientes que Nise (olha só, quem se considera íntima) percebeu que os
animais e principalmente os gatos, tinham a capacidade de afetar de maneira
muito positiva seus pacientes. Se eu tivesse tido a chance conhece-la, sei que
não falaria por muito tempo sobre sua construção teórica tão fantástica, eu
simplesmente lhe falaria sobre gatos; trocaria histórias felinas sobre os seus
e os meus três gatos, Nicole, Xano e Chico.
O papo com Nise seria igual aos
que tenho com minhas amigas e amigos gateiras (os). Seria fantástico ter o
prazer de papear com ela sobre suas inspirações para escrever seu livro [1]Gatos,
a emoção de lidar.
Mas sei que eu e Nise, não
tivemos e nunca teremos esta conversa real, mas para isso é que serve o
imaginário e seria mais ou menos assim minha conversa com ela (...);
Nise, se você tivesse visto como minha Nicole chegou. Resgatada de uma ninhada de filhotes abandonados próximos aos trilhos de uma desativada linha férrea , tão bebê que nem os olhinhos abriam, teve um quadro de infecção tão grave, mas, sua recuperação foi rápida, por causa do amor de seu irmão canino Bruce. Alimentada por uma seringa, a papinha de suplementos escorriam de sua boquinha formando um arco de leite e cereais, e aí vem a melhor parte, fazia parte deste ritual, encostarmos seu focinho com o focinho de Bruce e ele lhe enchia de lambeijos; olhando esta cena, eu e meu marido a apelidamos de “Nicolé o picolé de gato”, do início desta história até hoje, já se foram nove anos, deixa eu te mostrar a fotinha dela (linda né?) e até hoje ela enche nossos dias de amor, veja que o amor é cura para todo mal, mas isso você sabe melhor do que eu (risos);
Ah, você quer saber um pouco
sobre Xano também; pois bem, quando eu cursava Psicologia isso em 2011, chegava
sempre próximo as 23h00min e numa noite dessas, ao abrir o portão ouvi um miado
que mais lembrava um grunhido estranho e rouco, investigando um pouco entre as
plantas do jardim, vejo um gato com pelagem branca e marrom, muito magro e com
olhos tão arregalados de medo e desconfiança que me cortaram o coração, então meu
marido logo trouxe um punhado de comida e água limpa, (ele assim como eu ama os
gatos), sim, continuando, como um bichinho recém-liberto de um cativeiro, o
bichano se empanturrou rapidinho com a comida oferecida e fugiu, fiquei triste,
mas quem ama felinos, sabe que esta
liberdade e independência é fascinante ( até Chico Buarque já falou sobre isso);
e não é que para minha grata surpresa ele voltou no dia seguinte, e assim
também no terceiro dia e no dia posterior. Era tão engraçado que o ponto alto
do meu dia passou a ser a visita deste gato fujão (gargalhamos juntas), até que
um dia, ele deixou de ser o bichano e passou a ser Xano, isso mesmo, Xano com X,
isto é resquícios da geração do Xou da Xuxa, (risos).
Nise, você acredita que até hoje,
Xano mora em nossa casa, mas só dorme fora (por que quer), se for trancado em
casa ele dá um miado tão estranho que é melhor deixa-lo sair, mas, o que me
emociona é que até hoje ele me espera no portão independente da hora que eu vá
chegar, ele repete exatamente a cena de nosso primeiro encontro, sentado me
olha, e depois me acompanha até a casa, entra pareando nossos passos, se
alimenta, dorme, faz companhia, deixa que eu faça chameguinho e um tempo depois
vai até a porta da sala, senta, olha para a maçaneta e pede miando para sair;
Aprendo com Xano todo dia que amar é deixar o outro Ser, porque amar é Ser inteiro. Owww Nise, a gente
é besta né? (nos olhamos entre lágrimas e risos homogêneos);
Não tem aquele ditado que diz: Um
é bom, dois é pouco e três é demais? Eu diria assim: Um gato é bom, dois é
pouco e eu quero sempre mais um gato, (ria não, que o caso é sério). Depois de
um hiato acho que de quase seis anos adotamos outro gatinho, e olha que eu
tinha sempre o desejo de resgatar, adotar outro felino, mas a rotina da vida,
trabalho, estudos, espaço e estrutura me afastavam da possibilidade.
Então, outro dia estava em casa
sendo minha própria manicure numa manhã de domingo e batendo um papo com meu
marido, daí, ouvimos juntos um miadinho desesperado, às vezes distante, outros
momentos mais próximo, meu marido vai perseguindo o som e chega ao portão de
casa e olhando em direção a praça defronte a nossa casa, vê um pontinho amarelo
beirando o final da calçada e o começo da estrada, rapidinho ele saiu e
resgatou o gatinho, faminto, cheio de pulgas, com a ponta da cauda
enfestada por uma micose horrível e
olhos inflamados.
Após os primeiros cuidados
emergenciais, ele já tinha nome, Chico, (porque Chico?) eu não sou devota de
São Francisco de Assis, mas gosto de saber que sua representação Sacra é em
partes caracterizada pela proteção aos animais abandonados, e também para
homenagear Chico Science, criador do Movimento Mangue Beat, (daquela música que
diz assim: “uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor”,
risos) então, este ano 016 seria seu cinquentenário, e o melhor é que ele tem
cara de Chico (risos).
Ele é meu galego, meu caçula e há seis meses morde,
arranha minhas pernas, e me faz a companhia mais gostosa nos momentos que estou
lendo, escrevendo, fazendo uma maquiagem ou escovando os cabelos, ele é curioso
que só! Poxa Nise, foi tão gostoso compartilhar contigo um pouco da história
dos meus três gatos, sabe, eu sei que sou uma humana melhor por causa deles.
[1] Gatos,
a emoção de lidar – Nise da Silveira (1998) ,Leo Christiano, não há novas
edições, houve apenas uma tiragem e os que o tem, tratam como preciosidade.
Oi! Sou Xano
Eu sou Nicole ou Nicolé
"picolé de gato"
E eu sou Chico!
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